quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011



Expresso no Museu


Duas da tarde e um expresso na mesa a deixar de ser, a tornar-se eu,

O museu a ser memória e três ou quatro quadros que ficaram com um nome,

Outros nem isso, uma ideia vaga, retratos de gente que foi importante,

Gente morta e feia (mesmo que favorecida) encerrada em salões,

Uns dias cheios e outros dias vazios, com mais gente, que vive

Sem se dar conta da beleza viva à sua volta, fascinada pela obra

Que é quase imortal, quando o seu criador, um nome se tanto.

Duas da tarde e o sol cheio de ironia na rua gelada, na rua antiga,

Renovada a carne e sangue até ao fim dos tempos, cheia de cores

Que passam e desaparecem além das janelas, enquanto o expresso

Se perde dentro do abismo que não é tão fundo quanto parece, visto daqui.

Entra de olhos no chão, com um livro de arte num saco de plástico

Transparente, comprado na loja do museu, entra só com os seus cinquenta anos,

Entra como escolheu ser, um espectro grande do que foi, sem companhia,

Já foi bonita, vê-se nos olhos azuis escondidos pela fome da solidão,

Já foi desejada, mas aparentemente era demasiado boa para o mundo

E por isso ainda se senta ao fundo, num canto, com os seus anos a pesar,

Enquanto pede algo para o almoço às duas da tarde.

Deve ter cães, ou gatos, ou uma casa grande e vazia de gente,

Deve ter recusado muitos corações, porque não eram os certos,

Porque esperava alguém tão bom ou melhor que ela, usou para o que queria,

Esperou até ser demasiado tarde e agora é uma velha gorda e solitária,

Quase verde num canto enquanto espera que lhe tragam a comida,

Com o livro de arte aberto no colo e o saco de plástico vazio na cadeira ao lado.

Por alguma razão, dá-me impressão que ainda não saí do museu

E continuo a observar em silêncio, apreciando o gosto amargo do expresso

Que se dispersa lentamente, sem pressa, que são só duas da tarde

E o mundo é demasiado bom para mim, por isso abro as mãos ao que me oferece,

Sem medo, que nem todos serão telas pintadas num museu de uma cidade qualquer.



23.02.2011



Turku



João Bosco da Silva



Too real (blindness and fear)


Go away, she told him

From the start,

Right after their first

Kiss, outside the bar.

Go away, she said

Even when desire

Was melting her inside.


Stop, stop, she told him

Right after they started

Their first time together

On the kitchen table,

With the door open.

Stop, stop, she said,

While moaning,

Pushing him deeper

Inside of her.

Fuck me, she told him

When she was lost

But sincere,

Wet and tight but true.

Three times more,

Fuck me, fuck me,

Fuck me,

And in the end

She was scared,

Afraid of herself.


He should have known

That she was trouble.

He shouldn´t have gave

Her what she wanted,

Because she would

Refuse it (as she did),

Even when she wanted it.

She was afraid

Of desires and he

Was just one,

Too real for her.



B.