segunda-feira, 7 de novembro de 2011


A Cidade Um Poema



Às oito da noite os autocarros seguem-se cheio de olhares vazios, olhares cansados

Por mais um dia, em casa provavelmente nada mais espera que uma televisão silenciosa,

Uma refeição apressada, um gato, um cão e o peso das palavras todas que ficaram por dizer,

O telefone espera que alguém seja além das paredes e o poeta caminha cheio de si,

Com vontade de trincar o frio e as árvores nuas, convencido que ele a plateia do mundo,

Um teatro triste que ele escreve como se disso dependesse o juízo final, a testemunha

Do vazio que é a vida, tão pouco com a responsabilidade de vencer a eternidade,

Sabendo-se que é uma tarefa impossível, e gasta-se o tempo em nadas, em olhares

Vazios, abatidos pelo tédio e pela repetição dos dias, que mentem e nunca são iguais,

Mas não se consegue ensinar a ninguém, como encontrar a beleza num espelho partido,

Acorda-se assim, com uma fome nos pés, tornando os passos num poema que se escreve

Dentro, procurando nos bolsos um pedaço de papel, uma caneta, mas só o isqueiro

E os cigarros, a resignação despreocupada de ver a cidade que se escoa como um poema,

No vazio das portas fechadas. As janelas que se acendem, o cheiro do alcatrão, dos pneus

Que seguem com as vidas que levam, às voltas, o poeta fora, à espera de uma cor, a ser

Ninguém para os olhares vazios, que não o inventam, mas não interessa não existir,

O verde empurra mais umas palavras e no sentido inverso, alguém com o Sol que não

Veio e o azul que não se quis mostrar, sorri, e sem palavras, sem papel, a cidade um poema.



07.11.2011



Turku



João Bosco da Silva