domingo, 20 de novembro de 2011

Um Murmúrio


Pelos descampados vazios, só a nossa presença sobre a geada, não é necessário o Sol,

Que se acredita além do céu cinzento, que nos abraça como uma prostituta, sem calor,

A obrigação por uns dias quentes que nunca chegam, uma recordação em forma

De rasto de estrela cadente, na noite que nos espera no passos que ainda não demos.

Ambos sabemos que a vida é um acumular de fracassos e não passamos dos sobreviventes

De todos os sonhos naufragados, por isso lado a lado, comungamos da mesma esperança,

O calor do teu corpo, finalmente revelado nas minhas mãos pecadoras, o teu sabor

A gravar-se no instinto do olfacto, o hipocampo torna-te amor, ignorando palavras,

As mesmas que nos aproximaram todos estes anos de distância, longe de imaginar

Que o ondular do teu cabelo de cobre, neste mundo cinzento, fosse também felicidade,

E uma carícia também se sente com os olhos, como quando me sorris com toda a tua palidez,

Contra toda a amargura com que os anos te banharam, rasgas assim o frio de Novembro.

Mais ninguém, só a testemunha dos lábios, a promessa da saliva que persiste

Um brilho na tua pele, o sabor rosado dos teus segredos que derretem no limite

De um olhar sobre a eternidade num comum mortal, com fome de vida, sangue, carne,

Sem palavras, só os murmúrios da pele que nenhum verso consegue igualar.



20.11.2011



Turku



João Bosco Da Silva