domingo, 13 de maio de 2012


Conselho Sobre A Crise

Dizem que há crise João, dizem que há crise e os cafés estão cheios enquanto tanta terra
Ao abandono, à espera de uma semente, dizem que há crise, mas nunca vi a gente tão gorda,
Tão preguiçosa, tão mal habituada e bem calçada, eu e os meus irmãos, andávamos descalços,
No Inverno e quanta fome passamos, isto não é nada, a mim obrigaram-me a ir matar pretos
Lá na terra deles, lembraram-se de mim, cresci esquecido e o meu país só se lembrou de
Mim para me mandar matar, e o meu irmão que morreu por uma merdinha que hoje
Era um caixa de antibióticos e já está, a engordar, agora isto, crise, é tudo doutor,
Festas todos os dias, dizem que estudam mas só os vejo com cerveja na mão, livros nada,
Mas tu sabes como é, já foste doutor, agora olha, eu foi a França, tu lá longe, e Portugal
Agosto, mas aproveita, que os anos passam e nós cada vez menos, só a memória
E é o que somos, o que lembramos e dava tanto por esquecer tanta coisa, nunca os perdoarei,
Não os conhecia e tive que os matar, e tinham que nos matar, filhos da puta, os pançudos aqui
A encher a blusa, os de agora fazem o mesmo, chupam-nos o sangue, usam-nos a carne para
Canhão, gozam-nos com os ossos e ainda nos pedem a medula, a alma é o primeiro a ir,
E agora queixam-se que isto está mau, que há crise, enquanto tivermos uns porcos
Para matar, e a indiferença da ASAE, eles gostam bem do salpicão, ai não, haja vinho e olha,
Saúde, que com o resto não se pode contar, nunca se pôde contar, tu aproveita mas é.

13.05.2012

Turku

João Bosco da Silva