sexta-feira, 21 de setembro de 2012


Não Saber Esperar Pelo Vazio

Tatuei todas as promessas para que o tempo me provasse um mentiroso e guardei
Todos os segredos que me sussurraste ao ouvido enquanto fazíamos amor,
Para que o mesmo tempo mostrasse os segredos ao vento e expusesse o nosso
Amor numa montra de rua de uma cidade grande onde se vendem recordações de fodas
E outras relações de carne e fluídos, o amor secou com o tempo, como tudo seca
Ao Sol, enquanto ele também envelhece e acaba aos mesmos poucos que nós,
Mas nós menos poucos, com tantas estrelas na barriga quanto promessas vãs, sonhos
Demasiado sonhos para se trazerem para o mundo acordado e culpa-se sempre tudo,
Menos o culpado de tudo, cada um o culpado de tudo o que poderia ter sido e não foi,
Deixo-me então ir, levado pelo tempo, recolhendo recordações inúteis como tudo ao que
A memória se agarra, ou se agarra à memória, para no fim, nada, sono eterno, carne já
Não carne, ossos já um pó branco que uns putos snifam num cemitério, procuram poesia,
Ou um descendente que nunca se conheceu a falar sozinho, com nomes agora de ninguém,
Enquanto bebe mais um pouco de menos ele, um pouco mais de aproximação aos nomes de ninguém,
Alguém que a mãe ou o pai um dia mencionaram com uma saudade que não consegue
Encontrar nele, talvez numas fotografias, também elas pó, como as promessas de amor que o vento
De uma cidade grande e suja torna anónimas, sem sentido, como se alguma vez tivessem
Tido mais sentido além de estarem vivas no sangue enganado de alguém que ousou sonhar,
E o valor dos sonhos quando se acorda é o mesmo das lágrimas beijadas depois
Da distância secar a dor da despedida, por isso todas as despedidas ridículas, até na morte,
Porque não nos veremos lá onde ninguém está e toda a gente vai, e vão parando,
Em frente da montra, levando bolsos cheios de futuras masturbações, sem nomes,
Sem outra promessa que a do alívio da vontade de submeter, submetendo-se a eles mesmos,
Adiando a prova do tempo, o ridicularizar das tatuagens que tanta verdade tinham
Quando o momento parecia a eternidade naquele batimento cardíaco que parecia que não,
Que ia ficar suspenso, mas afinal só um beijo muito esperado que hoje pó, seco,
Como tudo seca ao Sol do tempo e da distância, tudo dura sem saber esperar pelo vazio
E o vazio afinal uma possibilidade de tudo, o vazio espaço infinito à espera de paciência.

21.09.2012

Turku

João Bosco da Silva