quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Perder Tempo

Acorda-se numa casa vazia quando a manhã já traz os cheiros da hora do almoço, aquece-se
O café já frio, abre-se a porta e bebe-se o Sol lá fora, com um livro que ficou a meio há sete
Anos, porque há sete anos tudo estava presente, todo o passado nas mãos a ser trocado por
Chegar a esta manhã que quase no fim, cada palavra tem um sabor demasiado claro e podiam
Ter sido minhas se tivessem passado por mim na forma das coisas que passam por nós,
Mas só o gato da minha irmã ainda passa, o pêlo amarelo na minha perna e assim, sentado,
Espero por companhia enquanto arrefeço novamente o café com goles lentos, enquanto a
Fome me dá sinal da proximidade da ausência, porque estar perto é de todas as formas não
Estar e uma casa vazia é igual a todas as casas vazias, mas um livro que se deixou a meio,
Poderá ser bebericado até ao fim, aquecido ao Sol da solidão de uma manhã invulgarmente
Quente de Dezembro, enquanto se espera que este tempo perdido encurte um pouco mais
A distância próxima da ausência e traga quem nos dê um Bom Dia aos ouvidos e aos lábios famintos.

24.12.2012

Torre de Dona Chama

João Bosco da Silva
Epifania Óbvia e Passagem

Morrer é um processo de construção demorada que leva uma vida, a construção constante de
Uma obra que celebre o poder da entropia sobre o esforço organizado da vida, na hora em
Que tudo desiste num suspiro, tudo cessa, desmorona-se o castelo de carne, sonhos e recordações.

Passa-se a vida à espera de um número redondo, que chega e passa e nada de especial acontece,
Apenas a ideia de um número redondo, espera-se pelo fim da espera, para no final se chegar a
Uma eternidade de vazio, o alívio é substituído pela desilusão, perde-se o tempo, perde-se sempre
Tempo à espera que o tempo chegue, quando ele sempre a partir, cada vez menos à espera
De se chegar lá, em vez de se escrever um poema, procura-se a coincidência do poema de outro poeta
E obtém-se o reconhecimento dos olhos que te perderam, enquanto esperavam como os
Meus esperam, um fim que só chegará no silêncio e no esquecimento, da última badalada.

31.12.2012

Torre de Dona Chama

João Bosco da Silva