terça-feira, 3 de junho de 2014

Another Day In Paradise

Os dias que ficam são os que os poemas prendem e muitos dias nem merecem ficar,
Há quem grite que está no seu direito de cuspir  nos direitos dos outros e lá
No fundo, foi a coisa que não se levantou ou uma saudade da próstata como se fosse
O tal terceiro tomate, há quem se julgue melhor só por viver demasiado dentro,
Felizmente, os autocarros levam tudo como a noite e levam barato, mesmo numa
Cidade de cerveja a dez euros debaixo de um Sol de esguelha e corvos engravatados,
Esperando por um bater na porta do quarto de hotel depois das máscaras caírem,
O passado tenta como a incerteza do presente, do futuro já nada se espera, está sempre
A vir, chega e nunca é futuro nenhum, presente e pouco mais do mesmo, desconfia-se
Que a felicidade se esconda no olhar de desconhecidos, talvez se esconda ,
Nos sorrisos anónimos que se confundem com a loucura, comprimido de manhã
Ou um escorrer viscoso pelas coxas abaixo desde a alegria ruborizada, a solidão é tão
Grande quando se está rodeado por um enxame barulhento e confuso, deseja-se
A inocência do cabelo mais claro, deseja-se mesmo a estupidez dos primeiros pêlos
Da vergonha, o egoísmo cego da idade das certezas, mas ninguém espera, a vida é
Excessivamente uma e parece acabar cada vez mais rápido, os primeiros anos
Duravam décadas, agora o Sol põe-se antes de se acordar e passa-se a noite a sonhar
Com copos vazios e roupa interior alheia pelo chão após uma penetração superficial,
Perde-se muito por se sonhar tanto e nunca ninguém viajou sentado se não houverem aviões
A passar ao lado de uma possível companhia, do lado de fora do tédio, do passeio,
Onde se acumulam passos esquecidos como latas de cerveja vazias e só o poema
Fica do dia que se tornou possível contra o vazio de todos os dias que estão por vir.

Turku

02.06.2014


João Bosco da Silva