quinta-feira, 5 de maio de 2016

Escrevo-te Da Montanha

Escrevo-te da montanha onde todas as madrugadas se encontram
E os sonhos são pedras que tocam o impossível,
Onde o vento é um deslumbramento da alma, a alma possível
Nos raios de Sol que amanhece e traz vida à vida,
Onde os corvos esperam pelo abandono e o esquecimento,
Por isso te escrevo e eles batem asas em direcção ao mar
Onde por vezes adormecemos e com sorte renascemos
Todas as manhãs com o sal de uma pele morena
Nas papilas cansadas dos dias vazios,
Daqui te escrevo, trasmontano, amigo, amante, carne universal,
Em comunhão com o vento dos tempos,
Escrevo-te da pedra com a delicadeza possível de uma primavera,
Sem medo ou vergonha porque ambos conheceremos a morte
E sabemos do amor e outras indelicadas erupções do desejo,
Escrevo-te sem fome ou sede, nada mais que um arauto dos sentidos,
Escrevo-te neste instante no extremo oposto à criação e saúdo-te
Amigo, amante, carne universal desde a montanha
Que é onde quer que seja o meu berço e o meu lar.

Edinburgo (Arthur´s Seat)

03/05/2016


João Bosco da Silva